HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. 26ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
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O livro Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda, apresenta uma importante reflexão acerca do nosso processo de colonização e suas conseqüências na formação do povo brasileiro. Aspectos históricos, políticos, econômicos e culturais são largamente discutidos e analisados pelo antropólogo, revelando aos leitores como se deu a influência dos países europeus que direta ou indiretamente estiveram envolvidos não somente na colonização do Brasil, mas também na formação dos países latino-americanos.
Durante todo o movimento envolvendo a chegada dos primeiros colonizadores europeus ao Brasil, nota-se claramente com a leitura do livro, que as marcas deixadas nesse período não foram apenas positivas. A cultura da submissão, de um país de terceiro mundo, pobre, com graves problemas de corrupção, extremamente desigual é fruto também das práticas daqueles, que invadiram não só as terras brasileiras, mas a vida daqueles que aqui moravam. A tentativa de Portugal e Espanha em implantar a cultura européia em terras brasileiras configura-se como um instrumento fortalecedor na constituição da atual sociedade. Sérgio Buarque de Holanda afirma que até hoje o Brasil é um povo desterrado em sua própria terra.
O autor mostra que a falta de coesão na vida social do brasileiro é um claro retrato da desordem instaurada no país nos primeiros anos da invasão portuguesa. Os decretos do governo que aqui se instalava atendiam apenas ao interesse de um pequeno grupo que cada vez mais adquiria poder. Dessa forma a sociedade brasileira que começava a se constituir com a presença dos já moradores, os índios, seguidos pelos trabalhadores europeus e também pelos negros africanos, cada vez mais era renegada ao descaso. Era a formação de um processo hierárquico pautado em inúmeros privilégios, sobretudo dos privilégios hereditários. Esse tipo de composição social diretamente ajudou a formar a concepção de moral e ética do povo brasileiro.
Por isso pode-se dizer que durante muito tempo o Brasil absolveu, assimilou e elaborou traços de outras culturas e que aos poucos o próprio povo daqui encontrou um modo de ajuste à sua maneira de vida. Assim foi na agricultura – no modo de lidar com a terra e com os grãos; nos costumes e hábitos do dia-a-dia; na produção literária dos séculos XVI a XVIII – com a influência dos escritores portugueses e principalmente com a força da igreja católica muito bem representada nos primeiros anos de colonização pelos jesuítas e principalmente pelos textos do padre Antônio Vieira.
O livro mostra com clareza a presença do negro como escravo que invade todas as esferas da vida colonial. Deles, diz o antropólogo, herdou-se uma suavidade dengosa e açucarada, o gosto pelo exótico, a sensualidade brejeira, a música e a dança, dentre tantas outras influências. E foram esses negros que por muito tempo se empenharam em fazer do Brasil uma extensão tropical da pátria européia.
Uma das mais fortes expressões da identidade de um povo, a sua língua, nestas terras de cá, sofreu profundas influências dos que participaram da constituição desse país. Índios, portugueses, espanhóis, africanos, alemães, holandeses, cada qual a seu modo tentavam impor a sua língua aos que aqui moravam. Especialmente a língua portuguesa torna-se a mais acessível, juntamente como o castelhano, por apresentarem menos dificuldades fonéticas, para índios e africanos. O português tornava-se, então, uma língua perfeitamente familiar a muitos deles. E o uso da língua-geral se fazia presente quando os jesuítas catequizavam os índios. O mais interessante era perceber que as famílias portuguesas e os índios de São Paulo, segundo Vieira, estavam tão ligadas umas às outras que as mulheres e os filhos falavam a língua dos índios e a portuguesa se aprendia na escola. E o resultado dessa relação com a língua é a influência no vocabulário, na prosódia, percebia, sobretudo, a partir do século XVIII.
Nos últimos capítulos o autor faz referência à influência do Positivismo de Comte nas escolas e na vida do povo brasileiro; ao declínio do velho mundo rural com a chegada da abolição e o desenvolvimento e o desenvolvimento dos grandes centros urbanos. Segue ainda importante reflexão fortalecendo todas as outras informações apresentadas pelo antropólogo: a de que no Brasil, aparentemente boa parte dos movimentos reformadores, partiram quase sempre de cima para baixo, de fora para dentro. Por isso a revolução brasileira não foi um fato que se registrasse em um único instante; foi antes de tudo, um processo demorado e que vem durando há pelo menos três quartos de século, passando pelos ideais da Revolução Francesa, a abolição da escravatura e pela chegada da família real em 1808. Essas e outras tantas forças mostradas no livro continuam modificando a cada dia a relação do brasileiro com ele mesmo, com a própria língua e com o mundo.
Durante todo o movimento envolvendo a chegada dos primeiros colonizadores europeus ao Brasil, nota-se claramente com a leitura do livro, que as marcas deixadas nesse período não foram apenas positivas. A cultura da submissão, de um país de terceiro mundo, pobre, com graves problemas de corrupção, extremamente desigual é fruto também das práticas daqueles, que invadiram não só as terras brasileiras, mas a vida daqueles que aqui moravam. A tentativa de Portugal e Espanha em implantar a cultura européia em terras brasileiras configura-se como um instrumento fortalecedor na constituição da atual sociedade. Sérgio Buarque de Holanda afirma que até hoje o Brasil é um povo desterrado em sua própria terra.
O autor mostra que a falta de coesão na vida social do brasileiro é um claro retrato da desordem instaurada no país nos primeiros anos da invasão portuguesa. Os decretos do governo que aqui se instalava atendiam apenas ao interesse de um pequeno grupo que cada vez mais adquiria poder. Dessa forma a sociedade brasileira que começava a se constituir com a presença dos já moradores, os índios, seguidos pelos trabalhadores europeus e também pelos negros africanos, cada vez mais era renegada ao descaso. Era a formação de um processo hierárquico pautado em inúmeros privilégios, sobretudo dos privilégios hereditários. Esse tipo de composição social diretamente ajudou a formar a concepção de moral e ética do povo brasileiro.
Por isso pode-se dizer que durante muito tempo o Brasil absolveu, assimilou e elaborou traços de outras culturas e que aos poucos o próprio povo daqui encontrou um modo de ajuste à sua maneira de vida. Assim foi na agricultura – no modo de lidar com a terra e com os grãos; nos costumes e hábitos do dia-a-dia; na produção literária dos séculos XVI a XVIII – com a influência dos escritores portugueses e principalmente com a força da igreja católica muito bem representada nos primeiros anos de colonização pelos jesuítas e principalmente pelos textos do padre Antônio Vieira.
O livro mostra com clareza a presença do negro como escravo que invade todas as esferas da vida colonial. Deles, diz o antropólogo, herdou-se uma suavidade dengosa e açucarada, o gosto pelo exótico, a sensualidade brejeira, a música e a dança, dentre tantas outras influências. E foram esses negros que por muito tempo se empenharam em fazer do Brasil uma extensão tropical da pátria européia.
Uma das mais fortes expressões da identidade de um povo, a sua língua, nestas terras de cá, sofreu profundas influências dos que participaram da constituição desse país. Índios, portugueses, espanhóis, africanos, alemães, holandeses, cada qual a seu modo tentavam impor a sua língua aos que aqui moravam. Especialmente a língua portuguesa torna-se a mais acessível, juntamente como o castelhano, por apresentarem menos dificuldades fonéticas, para índios e africanos. O português tornava-se, então, uma língua perfeitamente familiar a muitos deles. E o uso da língua-geral se fazia presente quando os jesuítas catequizavam os índios. O mais interessante era perceber que as famílias portuguesas e os índios de São Paulo, segundo Vieira, estavam tão ligadas umas às outras que as mulheres e os filhos falavam a língua dos índios e a portuguesa se aprendia na escola. E o resultado dessa relação com a língua é a influência no vocabulário, na prosódia, percebia, sobretudo, a partir do século XVIII.
Nos últimos capítulos o autor faz referência à influência do Positivismo de Comte nas escolas e na vida do povo brasileiro; ao declínio do velho mundo rural com a chegada da abolição e o desenvolvimento e o desenvolvimento dos grandes centros urbanos. Segue ainda importante reflexão fortalecendo todas as outras informações apresentadas pelo antropólogo: a de que no Brasil, aparentemente boa parte dos movimentos reformadores, partiram quase sempre de cima para baixo, de fora para dentro. Por isso a revolução brasileira não foi um fato que se registrasse em um único instante; foi antes de tudo, um processo demorado e que vem durando há pelo menos três quartos de século, passando pelos ideais da Revolução Francesa, a abolição da escravatura e pela chegada da família real em 1808. Essas e outras tantas forças mostradas no livro continuam modificando a cada dia a relação do brasileiro com ele mesmo, com a própria língua e com o mundo.
Um comentário:
Professor, muito boa essa resenha, uma das melhores que já li sobre o texto até hj!
Parabéns!
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